Aldo Rebelo em Belém: Críticas à Política Ambiental e Defesa da Soberania Nacional Marcam o 62º Encontro Ruralista
Por: Antonio Victor Silva,
Correspondente para Belém do Pará.
Foto: Faepa - Ascom |
Em visita a Belém, a convite da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA), o ex-ministro Aldo Rebelo proferiu a conferência de encerramento do 62° Encontro Ruralista, tradicional evento da entidade, que reúne as principais lideranças que integram o Sistema FAEPA / Senar / Sindicatos, de todo o Estado.
O jornalista e político tem viajado o Brasil para falar de assuntos relativos à segurança e defesa nacional, compilados em sua mais recente obra: "O Quinto Movimento - propostas para uma construção inacabada".
A crítica contumaz de Aldo, tem ganhado força e vem representando o grito "entalado" das lideranças sindicais que representam o segmento do agronegócio paraense.
Quando o assunto é a produção rural na região amazônica, os produtores se ressentem da forma como o Estado, através dos órgãos de controle, tratam da questão: "Somos vistos como criminosos, desmatadores e assassinos de indígenas. Como se o agro fosse uma falange do crime organizado" - protestou um produtor rural.
Da direita para a esquerda: o jornalista Antonio Victor, Aldo Rebelo e Tarcízio Burin, presidente do SPRDE. |
Tarcízio Burin, que está presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Dom Eliseu (SPRDE), município localizado a 436 Km de Belém, chegou a relatar, que muitos empresários rurais daquela região estão sendo penalizados "injustamente", pelos órgãos ambientais com multas e atos infracionais", ações estas que, promovem um verdadeiro embrolho legal, assustando os produtores.
Para o líder do SPRDE, a fala de Aldo Rebelo, surge como uma centelha de esperança de que o Brasil um dia retorne à lucidez e reveja pontos da sua política ambiental, principalmente aqueles que estão atrapalhando as pessoas que querem investir seu capital em um setor econômico de alto risco e produzir comida para os brasileiros e brasileiras. "Não é justo o que estão fazendo conosco", acrescentou.
Em entrevista à nossa reportagem, o ex-ministro Aldo Rebelo esclareceu alguns pontos sobre o antagonismo observado no livro "O Quinto Movimento":
Aldo Rebelo durante entrevista ao jornalista Antonio Victor (Folha 390). |
Aldo Rebelo: Eu distribuo a história do Brasil em quatro movimentos: O primeiro movimento é o da construção da nossa base física [...] do nosso território [...] do chão da nossa casa nacional. Esse é o primeiro movimento, quando o Brasil formou o seu território! O segundo movimento é a nossa independência, que vai até 1822, quando o Brasil, depois de passar por Tiradentes, Felipe dos Santos [...] várias revoltas, com o objetivo de fazer independência, conseguimos alcançar esse objetivo com D. Pedro I, com José Bonifácio, com a Princesa Leopoldina [...]; o terceiro movimento é o da consolidação da unidade do Brasil, que foi ameaçada por rebeliões, guerras civis, algumas separatistas, no século XIX [...] e o Brasil conseguiu contornar tudo isso, manteve o país unido [...] e o quarto movimento é o da República, que começa com Deodoro, Floriano, passa por Getúlio Vargas e vem até agora, quando na minha opinião, o Brasil mergulhou num processo de desorientação [...] de certa perda de rumo! [...] e o que eu trato é de retomar esse movimento da construção do país e ofereço um roteiro de debates na economia, na agricultura e pecuária, na mineração, na amazônia, na democracia, na questão da violência [...] e em todas essas esferas eu faço as minhas reflexões para que o país possa retomar a sua trajetória de crescimento, de redução das desigualdades de melhoria do padrão de vida dessas pessoas e de reconstrução da democracia.
Folha 390: O Brasil possui uma vocação à prosperidade, mas, essa perda de rumo pode definir o futuro da nossa nação. Na sua opinião, qual seria o pivô do atraso do país?
Aldo Rebelo: O Brasil, se você for colocando um denominador comum nos problemas que nós temos [...] de saúde, segurança, infraestrutura, de tudo [...] o Brasil só tem um problema: o país parou de crescer! Sem crescimento, não existe solução para nada [...] o Governo acabou por contingenciar recursos dos ministérios [...] o ministro da Fazenda anunciou recentemente um pacote para cortar gastos, mas o mercado não aceitou, o dólar subiu logo após o anúncio do pacote, porque eles acham que isso não vai resolver o problema - e de fato não resolve! - porque esses ajustes que eles estão tentando fazer é pela despesa [...] por mais que você corte despesa, sem aumentar a receita, a despesa sempre será maior [...] se você não possuir uma correspondência no aumento das receitas, não resolve nada [...] e, para o país aumentar a receita, não pode ser aumentando o imposto, o efeito pode ser contrário: se você aumenta imposto, aumenta a sonegação, quando não aumenta o número de empresas que quebram, por não suportar a carga tributária [...] para crescer é preciso ter uma atividade econômica maior [...] remover os obstáculos criados por esses órgãos de fiscalização, IBAMA, FUNAI, Ministério Público, as ONGs, etc.
Folha 390: Você considera perversa a forma como o Brasil encara o setor produtivo do agronegócio?
Aldo Rebelo: São esses órgãos de fiscalização e controle que consideram a agropecuária um problema para o meio ambiente [...] IBAMA, FUNAI, muitas vezes os órgãos ambientais dos próprios Estados [...] que foram tomados por essas ONGs [...] então, isso, cria de fato um problema sério para essa atividade, não só bloqueia o crescimento dela, porque as pessoas ficam com medo de produzir [...] as pessoas têm medo de serem tratadas como criminosas! [...] e na mineração a situação é pior ainda.
Folha 390: A presença das ONGs na Amazônia significaria uma manifestação clara do desejo de se internacionalizar esse território, com base em interesses, camuflados por esse discurso protecionista?
Aldo Rebelo: Problemas ambientais você tem no Brasil inteiro! [...] O rio Tietê é um rio podre e completamente morto [...] não vejo uma ONG atuando ali! [...] Eu acho que não é por causa do meio ambiente [...], mas porque aqui [ na amazônia] tem uma fronteira mineral muito rica, muito grande, biodiversidade [...] Eu nunca vejo ninguém num hotel de São Paulo falando inglês, aqui na Amazônia, você não entra num lugar onde não tenha um monte de gente falando inglês [...] é turismo? Acho que não é só turismo! [...] acho que tem outro tipo de gente bisbilhotando por aqui, no interior do Pará, do Amazonas, de Roraima [...] eu acho que não é por causa do meio ambiente.
Folha 390: O que determinou a sua ruptura com a esquerda brasileira, considerando que o Sr. foi ministro do governo Lula e fez boa parte da sua trajetória dentro do PC do B?
Aldo Rebelo: Eu sou de uma época, de um período, em que a esquerda possuía um viés nacionalista [...] eu era do PC do B, fui relator do Código Florestal, da Lei dos Transgênicos, da Lei de Biossegurança [...] fui da Defesa, da Ciência e Tecnologia [...] defendendo o crescimento, defendendo a questão nacional [...] depois a esquerda abandonou essas bandeiras, passando a defender apenas essas questões ligadas às diferenças biológicas de raça, de gênero [...] e abandonou o nacionalismo e, eu não tinha como concordar com tudo isso. Preferi me afastar, para continuar defendendo o que sempre tinha defendido. [...] O resultado é que você hoje tem uma esquerda praticamente toda vinculada a essa coisa dos direitos individuais e deixaram os direitos nacionais, os direitos coletivos de lado!.
Folha 390: Qual a sua visão acerca da venda/concessão de minas na Amazônia?
Aldo Rebelo: Eu acho que o Brasil, tem que proteger a sua soberania e proteger a Amazônia contra qualquer tipo de ambição, seja ela europeia, americana ou chinesa. O país não pode especificar a ambição de nenhuma potência, porque ele tem que se proteger de todas [...] você não pode dizer apenas que a ameaça é chinesa [...].
Folha 390: Em relação à COP 30 em Belém, o Sr. acha que o evento tem capacidade de gerar algum benefício ao povo amazônico?
Aldo Rebelo: A minha impressão é de que haverá um certo esvaziamento da importância dessa conferência, por quê? [...] a eleição dos Estados Unidos vai tirar muito de interesse americano dessa agenda. Em Baku, por exemplo, já teve uma presença americana muito reduzida e uma repercussão muito menor [...] e acho que a do Brasil será menor ainda, isso vai ser bom para o país, pois essa conferência não vem com boas intenções [...] ela vem com interesses de criminalizar nossa agricultura, nossa mineração, a nossa pecuária, a nossa agroindústria [...] eles acham que a agricultura europeia e americana não ameaça o meio ambiente, só ameça a nossa [...] então eu acho que não é uma coisa ruim para o Brasil se a COP 30 não tiver o impacto que os seus organizadores esperam.
Apesar de ter feito carreira em movimentos tradicionalmente de esquerda,
Aldo Rebelo conquistou o apreço das entidades ligadas à representação
do agronegócio brasileiro, pelo seu pragmatismo político e pela sua
acurada crítica acerca dos rumos que a política ambiental tomou no
Brasil, impactando o setor produtivo e causando fissuras à soberania
nacional, perante os interesses internacionais no potencial econômico
dos recursos naturais do país, segundo ele, camuflados por essa excessiva preocupação com a preservação ambiental.
Histórico
José Aldo Rebelo Figueiredo nasceu em 23 de fevereiro de 1956, em Viçosa, Alagoas. Em 1975, entrou para o curso de Direito na Universidade Federal de Alagoas. Presença ativa no processo de reconstrução da UNE, Aldo foi eleito presidente da entidade, em seu 32º Congresso, em Piracicaba, no ano de 1980. Após essa gestão, Aldo ajudou a fundar a União da Juventude Socialista – UJS (1984-1985) e foi eleito seu primeiro coordenador.
Aldo Rebelo seguiu carreira política e elegeu-se vereador pelo PCdoB, em 1988, e deputado federal, em 1990, reeleito até 2002. Foi presidente da Câmara dos Deputados de 2005 a 2007. Elegeu-se novamente deputado nas eleições de 2010. Foi ministro de Relações Institucionais de 2004 a 2005, ministro do Esporte de 2011 a 2014 e ministro da Ciência e Tecnologia a partir de 2015.
Drops
Na edição de aniversário do Jornal O Liberal, Aldo Rebelo assinou o artigo "Amazônia - Departamento francês de ultramar?" em crítica ao posicionamento da ex-ministra da França Christiane Taubira, que
agora é catedrática da USP. Por defender a ideia de que "o mundo
inteiro pode decidir sobre a Amazônia". No texto, Aldo considera que a
Guiana Francesa, com o seu "Batalhão da Legião Estrangeira", são os
"olhos da OTAN, espiando e cobiçando a Amazônia brasileira" - escreveu.