Governo ditatorial da Venezuela mira interesses políticos e econômicos na disputa pela Guiana Essequiba

Foto: Reprodução Twitter/@wanderisak

 No último dia (03), o plebiscito organizado pelo regime de Nicolás Maduro, referendou a anexação de parte da Guiana à Venezuela. Com 96% de apoio, a polêmica incursão do ditador venezuelano, traz para a América do Sul a ameaça de guerra, rompendo quase três décadas de harmonia diplomática.

A decisão, dá continuidade a uma disputa que tem como bojo os interesses pelas grandes reservas de petróleo, ouro e outros minerais de alto potencial econômico. Em 2015 foi descoberto petróleo bruto na Guiana, pela multinacional ExxonMobil. O que causou um salto para a economia do país, que possui cerca de 11 bilhões de barris desse recurso natural em suas reservas. 

Gabriel Neves, bacharel em Relações Internacionais, explica que o conflito entre os dois países é bastante antigo, remontando ao período em que espanhóis e ingleses estabeleciam domínio sobre a região. “Maduro quer ganhar apoio público para conseguir viabilizar uma possível reeleição. E essa questão da anexação do território é algo que até a oposição concorda, ou seja, todos querem que aquele território seja anexado. Do ponto de vista econômico, o território dá acesso às águas que levam até um grande espaço de extração de petróleo. Além disso, o petróleo guianense tem uma qualidade bem superior ao petróleo venezuelano” — afirma o especialista.

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2022 a República Cooperativa da Guiana apresentou um crescimento de mais de 60% do seu Produto Interno Bruto. Em dez anos, a economia guianense reverteu um quadro crítico de inflação, que em 1992 ultrapassava os 100%, enquanto naquele mesmo período, o crescimento do PIB era negativo.  Tal feito, significa um dos crescimentos mais acelerados, quando comparado com qualquer outro lugar do mundo.

Fonte: International Monetary Fund, 2023.

A relação entre a ex-colônia britânica e o Brasil se estabeleceu na década de 1968, dois anos após a declaração de independência do território, a partir da assinatura de acordos bilaterais. O aprofundamento dos laços diplomáticos se deu em meados dos anos de 1990, motivado pelo aumento no número de brasileiros residindo naquele país. Em 2012, a Guiana ingressou no MERCOSUL, assumindo o papel de Estado Associado. 

No tocante às questões regionais, o papel da diplomacia brasileira é preponderante, tendo em vista que as tropas venezuelanas não têm como acessar o território do Essequibo se não for pelo Brasil, através da região de Pacaraima, ao norte de Roraima. 

Foto: Reprodução/Twitter do governo da Venezuela

Durante reunião bilateral nas ilhas São Vicente e Granadinas no último dia (14), o Governo da Guiana, na pessoa do seu presidente, Irfaan Ali, afirmou que o mapa não irá mudar, já a Venezuela sinalizou buscar um consenso após o encontro — noticiou o portal G1. Os dois países também se comprometeram com a busca da boa vizinhança, da coexistência pacífica e da unidade da América Latina e do Caribe.

Em outro ponto do acordo, ficou definido que ambos os Estados se absteriam, seja por palavras ou atos, de escalar qualquer conflito ou desacordo decorrente de qualquer controvérsia. Essa foi a afirmação principal anunciada na histórica “Declaração Conjunta de Argyle para o Diálogo e a Paz entre a Guiana e a Venezuela”

Uma nova reunião entre os dois líderes está prevista de acontecer nos próximos três meses, no Brasil. Conforme informou o jornal Guyana Times.

Para esse importante evento, o presidente brasileiro enviou o chanceler Celso Amorim como observador. 

Todavia, resta-nos saber, para além dos afagos diplomáticos, qual será o real posicionamento do Itamaraty ao longo das negociações. Em maio desse ano, Nicolás Maduro foi recebido no Brasil com honras de chefe de Estado.

Contra o presidente venezuelano, pesam acusações de 'sistemáticas violações aos Direitos Humanos', conforme noticiou o jornal espanhol "El País". O extenso relatório de 443 páginas, onde constam as denúncias, fora apresentado em setembro de 2020, na cidade de Bruxelas. O mesmo foi elaborado pela missão internacional independente das Nações Unidas para a Venezuela. 

Antonio Victor, é jornalista e geógrafo.




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