Não há futuro possível sem paz entre os povos.

 


A eclosão do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas chocou o mundo nesse último sábado (07). A escalada de conflitos em várias partes do mundo, concorrem para desestabilizar a ordem geopolítica internacional, resultando em centenas de civis mortos com desdobramentos catastróficos na economia e na garantia dos Direitos Humanos.

Em um mundo cuja economia é globalizada, todos acabamos partilhando de algum efeito em nosso micro espaço. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia evidenciou bastante esse fenômeno. O conflito israelense não seguirá diferente.

No recente século XX, o mundo testemunhou os horrores de duas grandes guerras com proporções mundiais.

O historiador Eric Hobsbawn, chegou a afirmar inclusive que, embora a humanidade tenha sobrevivido, "o grande edifício da civilização do século XX, desmoronou nas chamas da guerra mundial, quando as suas colunas ruíram". 

Em sua obra “A Era dos Extremos", Hobsbawn relata que, inclusive, o significado da palavra paz havia se alterado. Para boa parte da Europa do pós-guerra, "paz", significava um estado "antes de 1914". Isso porque, até 1914 o mundo há mais de um século não fazia guerra.

Mas, o que leva os seres humanos a guerrearem entre si? 

A arqueologia no fornece dados importantes sobre como era a convivência dos seres humanos nos primeiros assentamentos sedentários do Neolítico. Os arqueólogos notaram que essas comunidades eram constituídas próximas aos rios e não no alto das montanhas, como estratégia defensiva do ataque de prováveis inimigos. Isso significa que não havia nenhum temor acerca de alguma catástrofe contra eles e a convivência entre os seres humanos era pacífica.

Durante séculos não se encontrou nenhum registro de guerra na história da humanidade. Mesmo os grupos humanos que dominavam a arte do metal, não existem registros de que eles se utilizavam desse recurso para produzirem armas.

Tal achado da arqueologia, contradiz completamente o senso de que a humanidade sempre fez guerras desde que "o mundo é mundo". Sei que é um fato meio que "difícil" de se aceitar, quando notamos na humanidade muito pouco de virtudes como empatia, diálogo e compaixão.

Charles Chaplin no Último Discurso do "Grande Ditador", parece nos oferecer uma chave interpretativa acerca da origem do mal humano, quando afirma:

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

O "discurso" de Chaplin tem um significado importante. Da sua hermenêutica, podemos sintetizar a ideia de que o ser humano criou sistemas de morte e de autoflagelo. Pervertendo a boa convivência e a paz entre seus semelhantes.

A religião, os sistemas políticos, as doutrinas econômicas fracassadas [...] evidências de uma engenharia social perversa, baseada no medo e na culpa. 

Esse axioma está tão enraizado em nosso inconsciente coletivo que a única coisa que sabemos fazer é reproduzir isso de geração para geração, mediante aparelhos ideológicos. Tais como a educação, a religião, os meios de comunicação, a cultura de uma maneira geral. Como muito bem postulou o filósofo francês Louis Althusser, em sua abordagem acerca do Marxismo Estrutural. 

Em outras palavras: estruturas de poder microfísico, como promoção do domínio da humanidade no afã de produzir "corpos dóceis", segundo o raciocínio de Michel Foucault.

O que esperar do futuro se o presente nos parece tão ameaçador?

Assim, igualmente angustiante foi para as gerações que nos precederam. Em meio ao caos, aprenderam a lidar com as agruras da vida. Contudo, não há futuro possível sem a paz entre os povos!

Antonio Victor
O autor é Geógrafo e Jornalista na Folha 390.






Next Post Previous Post
No Comment
Add Comment
comment url

Você também pode gostar