MANGUES DA AMAZÔNIA: Sustentabilidade no presente, para garantir o futuro do ecossistema.

Fotografia: Rafael Araújo, Mangues da Amazônia.

 Por Antonio Victor

Correspondente na Zona Bragantina.
Jornalista e Mestre em Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável.

 Ouça a reportagem completa, no player acima.

 A preocupação com as questões ambientais na Amazônia tem se intensificado na última década, dada a importância do bioma para a biodiversidade do país. É na costa amazônica, por exemplo, que se encontram 80% dos manguezais brasileiros, representando a maior faixa contínua de manguezal do mundo. Nessa reportagem especial, iremos mostrar como iniciativas da sociedade civil organizada, podem contribuir com a preservação desse importante ecossistema na garantia do presente e do futuro da sociobiodiversidade da amazônia paraense.

O Projeto Mangues da Amazônia é um projeto socioambiental com foco na recuperação e conservação de manguezais em Reservas Extrativistas Marinhas (RESEX) no Estado do Pará. A iniciativa é executada pelo Instituto Peabiru e pela Associação Sarambuí, com o apoio do Laboratório de Ecologia de Manguezais, da Universidade Federal do Pará e com patrocínio do programa Petrobrás Socioambiental.

Segundo John Lennon, gerente de projetos socioambientais  e socioeconômicos no Instituto Peabiru, o projeto se divide em duas grandes frentes: a ambiental e a social. Todas as ações de cunho social estão direcionadas para as pessoas que possuem relação direta ou indireta com o manguezal. Incluindo um público na faixa etária entre 03 e 19 anos, inseridos através de atividades lúdicas, de cunho educacional e de iniciação científica, que objetiva reforçar a identidade cultural e a formação da consciência ecológica - esclarece.

O 'Mangues da Amazônia' atua com foco em três áreas de Reserva Extrativista na Amazônia Paraense: Mar de Araí-Peroba, no município de Augusto Correa; Mar de Caeté Taperaçú, na região de Bragança e Mar de Tracuateua, no município homônimo. Alcançando uma área geográfica de cerca de dez hectares.  

As Reservas Extrativistas são espaços territoriais de proteção ambiental e cultural das populações tradicionais. Conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, instituído pela Lei 9.985/2000, as RESEX estão sob o domínio do poder público, com uso concedido às populações extrativistas, que ocupam estes locais. Como unidade de uso sustentável, a economia gerada por uma RESEX não pode ser de grande escala e deve ser compatível com os princípios da sustentabilidade.

A preocupação com a visão que os jovens têm acerca do mangue se traduz no programa “Pró-mangue” - os protetores do mangue – por meio do qual se discutem com os participantes noções de Direito Ambiental, Direitos Humanos, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), etc... Assim como o pertencimento à comunidade, através do conhecimento da história sociocultural do lugar que ocupam, que se traduzem em vivências ambientais na região.

Para Fausto Gomes, da comunidade do Nanã, no município de Tracuateua, nordeste do Pará, a experiência de participar do projeto tem sido incrível “o que eu mais gosto no projeto, são as nossas viagens de campo, que são chamadas de viagem de pesquisa, e também as muitas atividades que nos proporcionam grandes aprendizagens no campo ecológico e social’ - afirma o jovem de 15 anos.

O jovem Fausto, juntamente com outros, plantando mudas em região de mangue.

Os adultos no projeto são atendidos por ações pontuais, organizadas a partir de parcerias com outras instituições, que executam cursos no âmbito da economia criativa, auxiliando na micro geração de renda, além da formação de rodas de conversas, como a “nem te conto’’, que atende mulheres em situação de vulnerabilidade, como público prioritário.

Na esfera ambiental, o Projeto Mangues da Amazônia também realiza o mapeamento de áreas degradadas de manguezais e também dos locais onde os marisqueiros coletam o caranguejo. “É através desse estudo que as equipes do projeto decidem onde serão realizadas atividades de replante do mangue degradado e oferece propostas de manejo para a comunidade’’, explica  John Lennon.

Valdinei, de 30 anos. Imagem: Portal Folha 390

 

Para Valdinei de 30 anos, coletor de mariscos que vive na comunidade do Acarajó Grande, no município de Bragança, o desmatamento do mangue tem sido um problema constante. Segundo ele, “[…] muita gente corta pau dentro do mangue […] quem faz isso acaba com o mangue e atrapalha o nosso trabalho, pois contribui para a escassez do produto que a gente coleta, pois é disso que a gente vive. Antes conseguíamos tirar dez cambadas de caranguejo [uma cambada consiste em um amarrado com aproximadamente 13 caranguejos], hoje [com os efeitos do desmatamento, segundo ele] só conseguimos quatro ou cinco [cambadas], com no mínimo três horas de andada pelo mangal” - afirma.
 

Lugar de terra mole, lodosa, de cheiro peculiar [...] os manguezais compõem o bioma Marinho Costeiro, segundo o Instituto Chico Mendes (ICMBio). E integram o que se conhece como “Amazônia Azul’’. O planejamento e execução de iniciativas socioambientais como o Projeto Mangues da Amazônia é estratégico para a conservação e a sustentabilidade nesses territórios, estabelecendo uma relação que interpola o presente e o futuro das gerações. Pois, o manguezal, além de prestar importantes serviços ecológicos, também representa um sistema socioeconômico complexo. Envolvendo as comunidades que interagem social, histórica e culturalmente, produzindo identidades e riquezas, simbolizando uma parte do imensurável tesouro do povo Amazônico, que habita esses espaços.  


FOLHA 390

Jornalismo Independente

*A reprodução está permitida, desde que citada a fonte e mantidos inalterados os áudios e textos.

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