Excesso de confiança minou estratégia de Chico Neto na tentativa de eleger seu sucessor

 

A vitória acachapante de Claudionor Moreira (PP) sobre o candidato governista, Alexandre Buchacra (MDB) expôs um erro crasso cometido por Chico Neto, ao escolher seu sucessor. 

É fato conhecido entre os integrantes da política municipal, que o mandatário, depois que consegue o que quer, costuma não cumprir acordos de campanha, Chico possui uma personalidade individualista, assim como uma visão exagerada da própria imagem.

Também, Claudionor não é pessoa de trato fácil, apresenta um perfil personalista difícil, e é resistente em ser liderado. Uma chapa composta por um prefeito e um vice com essas configurações, indicava que cedo ou tarde, o sentimento de rivalidade iria aflorar.

Ao longo desses oito anos em que esteve à frente da Prefeitura de Capanema, Chico procurou manter tudo e todos debaixo do próprio "cabresto", como faziam os antigos coronéis. Inclusive, governou todo esse tempo praticamente sem oposição na Câmara de Vereadores.

Nesse ambiente hostil, para o surgimento de novas lideranças, figuras como Claudionor Moreira, vice-prefeito na chapa, possivelmente se sentiu desprestigiado, ao se deparar com a pouca autonomia e a forte concentração de poder do seu colega.

Percebendo essa condição, Claudionor decidiu romper com o próprio governo do qual ele fazia parte, antes que fosse tarde e isso comprometesse o seu projeto pessoal de se tornar o próximo prefeito de Capanema.

Observe a conjunção dos fatos...

Nas Eleições Gerais de 2022, Marcelo Pierre, então secretário de Indústria e Comércio do município, disputou para o cargo de Deputado Estadual pelo Partido Republicanos. A estratégia tinha um único objetivo: testar o nome do jovem secretário para uma possível composição em 2024, já que vários postulantes para a disputa ao pleito, começavam a surgir em Capanema.

Marcelo Pierre vem de família tradicionalmente política, é filho do ex-prefeito Edmilson Acácio (Padim). Elegeu-se vereador, por média (sobra de votos), aos 32 anos, pelo antigo PMDB, nas eleições de 2004, não conseguindo repetir o resultado na eleição seguinte (2008), em que ficou como suplente.

Considerando o resultado apurado nas urnas em 2022, Marcelo Pierre foi muito bem na missão. Dos 6.547 votos recebidos, 4.890 foram depositados em Capanema, algo em torno de 74,69%. Não teve votos suficientes para se eleger deputado, mas apresentou ter base eleitoral para uma chapa ao cargo de prefeito.

Se Chico Neto realmente tivesse interesse em neutralizar os efeitos negativos causados pela insurreição de Claudionor Moreira, a qual resultou no "racha", articular uma chapa de coalizão entre Claudionor Moreira e Marcelo Pierre, teria sido imbatível, para os planos do governo.

Porém, não foi o que aconteceu. Como disse anteriormente, o Chico não tem o perfil de apostar na juventude (ou seja, na novidade). Sua visão conservadora e limitada em relação a essa questão, fez com que ele buscasse no governo estadual uma muleta. E foi aí que o governador Hélder, indicou o nome de Alexandre, que já tinha sido prefeito e estava como Secretário Adjunto de Educação do Pará.

Em linguagem direta, Chico Neto subestimou o potencial de Claudionor de vencer a disputa e acabou transformando, o risco em ameaça, por seu excesso de confiança e altivez. Ao decidir apostar em Alexandre, ou seja, alguém da velha guarda, Chico estava dando um tiro no próprio pé. Desperdiçou o potencial de Marcelo Pierre, deixando-o apenas no papel de coadjuvante.

Uma campanha com clima de revanche...

A campanha política em Capanema foi marcada por um clima de revanche. Foram muitas as acusações trocadas via palanque eleitoral. Fontes ligadas ao prefeito Chico Neto, sinalizaram que o desejo de sabotar a campanha de Claudionor era tão grande, que o prefeito faria qualquer coisa para impedir o sucesso do adversário.

De fato, a conjuntura da campanha de Claudionor era bastante adversa ao êxito. Analistas políticos [inclusive este que vos escreve], chegaram a conjecturar o cenário como "desafiador" para o empresário, diante do apoio do Governador Hélder ao candidato governista, o que por si só, significaria um fator crítico de sucesso, diante da forte incursão do MDB estadual, na corrida pela conquista do maior número de prefeituras. Quem apostaria na derrota de um candidato apoiado pela família Barbalho?

As alianças de Claudionor também eram bastante questionáveis, pois Jair Neves não teve bom desempenho eleitoral quando disputara para prefeito do município em 2020, recebendo apenas 9.846 votos (25.93%), em contraste com os 26.732 votos de Chico Neto (70,40%). Outro fato inusitado, foi o ressurgimento de Eslon Martins (ex-prefeito), como cabo eleitoral, o qual mergulhou fundo no apoio a Claudionor, despertando a aprovação de lideranças nostálgicas, de seu último mandato.

Para piorar, as últimas pesquisas eleitorais divulgadas pela campanha de Claudionor Moreira, foram impugnadas pela Justiça Eleitoral, por supostos indícios de fraudes e tentativa de manipulação do eleitorado.

Se Chico tivesse baixado a bola...

Talvez o resultado fosse completamente diferente se o prefeito de Capanema tivesse apostado em Marcelo Pierre ou mesmo em uma chapa composta por Claudionor e Marcelo. Apesar de que, a julgar pelos resultados das urnas, a população sinalizou rechaçar qualquer projeto que viesse com a assinatura da indicação de Chico. 

Como agravante, o governo do segundo mandato de CN, não foi bom! Muitas obras atrasadas, só foram entregues em ano eleitoral (velha tática de Chico). Ao longo do tempo, o prefeito, passou a aumentar consideravelmente a verba de gabinete, principalmente nos últimos quatro anos (conforme indica os documentos da Lei Orçamentária Anual). Também fontes consultadas afirmam que Chico, supostamente, utilizou-se da máquina nos últimos anos para locupletar os próprios cofres. 

Aparelhando-se de empresas licitantes com a Prefeitura de Capanema, Chico supostamente, teria passado a obter, através delas, vantagens pecuniárias em benefício próprio, através da suposta prática de "rachadinha", chegando a exigir um valor percentual de todas as notas fiscais emitidas por essas empresas satélites, por pagamentos de serviços prestados à municipalidade, segundo informaram algumas fontes.

Contra fatos, não há argumentos...

Chico Neto foi o maior derrotado das Eleições 2024. Perdeu para ele mesmo e agora colhe o resultado do seu excesso de confiança e erros políticos, cometidos ao longo dos últimos oito anos.

Por Antonio Silva, analista político.

*O autor é Empresário, Jornalista, Sociólogo, Bacharel em Ciências Contábeis e Administração de Empresas.

 

 

 

*Disclaimer - As opiniões expressas nesta coluna são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente a posição da Folha 390. O conteúdo aqui apresentado é baseado em informações disponíveis no momento da publicação e está sujeito a mudanças. Recomendamos que os leitores consultem fontes adicionais para confirmar os dados e formar suas próprias opiniões. Este material não deve ser interpretado como indutor de voto em algum candidato, conselho legal, financeiro ou profissional.  .



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